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domingo, 25 de janeiro de 2015

A Minha Ligação Inicial com o Rock, na Infância e Começo da Adolescência - Por Luiz Domingues

Comecei a prestar atenção, e apreciar música para valer, acredito que em 1966, quando tinha seis anos de idade. Eu morava na Vila Pompeia, bairro da zona oeste de São Paulo e nessa época, era muito difícil andar por um quarteirão desse bairro, onde não houvesse pelo menos uma banda a tocar na garagem de qualquer residência, em um sábado, pelo período da tarde. 

A primeira vez que eu ouvi inteiro o LP "Rubber Soul" dos Beatles (mas já conhecia a banda e muitas das suas canções desde 1963, praticamente), foi na praça pública perto de casa (Praça Cornélia, e para quem não conhece o bairro, esta fica bem próxima ao Sesc Pompeia, e do Parque Antárctica/Allianz Parque, estádio do Palmeiras).

O padre da paróquia, São João Maria Vianney, mandou colocar serviço de alto-falante entre as árvores da praça, e aos domingos, ainda bucolicamente a parecer uma cidade interiorana, se tocava música a tarde inteira, até a missa das dezoito horas. Ali as famílias se reuniam e o som acontecia a todo vapor, com muito Rock e MPB de qualidade a soar.
 
Foto de dezembro de 1968, a tocar o instrumento de percussão conhecido como "triângulo", prosaicamente com a bandinha da minha escola (Escolas Agrupadas da Vila Olímpia), no palco do Teatro Paulo Eiró. Sou o terceiro, da direita para a esquerda, na fileira mais alta. Acervo do portal Uol/Folha de São Paulo. Click: desconhecido

Esse interesse aumentou gradativamente e já a partir de 1968, eu estive ligado na programação da Rádio Excelsior, a dita: "A Máquina do Som", a gostar de escutar o som de Otis Redding, The Mamas and The Papas, The Beatles, The Rolling Stones, Os Mutantes e uma série de outros artistas ótimos dos anos sessenta, ali, no calor daquela efervescência mágica.
De 1970 em diante, essa ligação só fez aumentar essa carga e mesmo criança, eu já percebia que não era só a música em si. Havia uma infinidade de valores extra-musicais, envolvidos por trás.

Eu, Luiz Domingues, em 1971, a receber o diploma do curso primário. Acervo familiar.
 
Em 1971, foi a última vez que cortei o cabelo a mantê-lo curto. Já ao final desse ano, eu estava com as orelhas encobertas, a me livrar para sempre do corte tradicional e militarizado que usei na infância inteira, e que os barbeiros chamavam como: "americano curto". 

Claro, muito em função do fato de que no início dos anos setenta, o cabelo longo saiu dos limites do Rock e do movimento Hippie, ao se tornar um modismo na sociedade, como um todo. 

Sendo assim, os meus pais me deixaram usar o meu cabelo no padrão aceitável, até onde o modismo passageiro permitira, sem imaginar que estavam a abrir a porta para o pré-adolescente mergulhar de cabeça nas ideias do movimento hippie, embebecido por ideais Rockers & afins.

E assim, de 1972 em diante, isso só poderia aumentar de uma forma avassaladora dentro de minha imaginação, sem que a minha família obtivesse a dimensão da seriedade com a qual eu encarava tais fatos.

Dali em diante, foram discos e bandas a serem descobertos a cada dia, rabiscos nas folhas de caderno da escola, as revistas: "Rock a História e a Glória", "Pop" e "Rolling Stone", resenhas de discos e de shows a serem lidas nos jornais e tudo isso a borbulhar na minha cabeça, cada dia mais cabeluda. 

Sem contar a brutal influência do programa radiofônico "Kaleidoscópio" ("altamente"/"alta mente", obrigado, grande Jaques!) e o de TV, "Sábado Som".

Em 1973, foi difícil cursar as aulas da sexta série (e que muitos, incluso eu, ainda chamavam como "segundo ano ginasial", a seguir o padrão mais tradicional da divisão pedagógica que se modificara em 1972), enquanto o Paul McCartney martelava o LP "Wild Life" na minha percepção, John Lennon propunha "jogos mentais", e George Harrison me dizia que o planeta Terra precisava de paz...

Alice Cooper me enlouqueceu com "Billion Dollar Babies", eu ouvia "Houses of The Holy" (Led Zeppelin), até furar o vinil, "Burn" (Deep Purple"), o dia inteiro... "Metal Guru" (T.Rex), "Ummagumma" (Pink Floyd) e "We're an American Band" (Grand Funk), para variar.

Eu, Luiz Domingues, em 1974. Foto: arquivo familiar 

Foi a partir de 1974, que uma ideia surreal surgiu na minha mente: e se eu aprendesse um instrumento? Ou cantasse, ou fosse um compositor? 

Mas a realidade foi que eu esbarrava na questão: como isso seria possível, se eu não sabia absolutamente nada de música, não tinha acesso a nada?

Entretanto, o processo de enlouquecimento Rocker só aumentara. A razão fora sobrepujada pela emoção, pura e simplesmente! E nesses termos, tive a companhia do Yes, Pink Floyd, ELP, King Crimson, Genesis, David Bowie, Frank Zappa e Johnny Winter a falarem comigo o dia inteiro...

Ver um show de Rock se transformara em um sonho e dessa forma, não poderia ter sido melhor esse debut que eu tive: lançamento do LP "Tudo Foi Feito Pelo Sol", Mutantes, Prog-Rock e gelo seco... pronto, foi a magia arrebatadora que me capturou-me de forma irreversível...
Em março de 1975, um colega da escola, um "freak" com o cabelo pela cintura, me perguntou se eu conhecia um programa de rádio chamado: "Kaleidoscópio". Fiquei assombrado com o que ele me disse: tratava-se de um programa ultra Rocker, mediado por um apresentador "chapadíssimo", chamado: Jaques, e que ia ao ar diariamente, de segunda a sexta, em uma estação de rádio AM, e teoricamente, uma emissora com perfil "careta!"

Como poderia ser possível um programa transadíssimo desses, ser produzido em uma estação de rádio, "careta?" Mas foi... e dali em diante, eu passei dois anos a chegar sonolento nas aulas, todos os dias, pois mesmo ao ser obrigado a estar no ambiente escolar às 7:30 horas da manhã, eu não abri mão de ouvir o Kaleidoscópio, toda madrugada, da meia-noite às duas da manhã.

Outra decisiva experiência me ocorreu na mesma ocasião: o primeiro show de Rock internacional! E assim, ver Rick Wakeman, com aquela pompa e circunstância, foi um "desbunde", como se dizia na época.  

Aquela capa de lantejoulas tão histriônica, a montanha de teclados, a banda, a Orquestra Sinfônica Brasileira, o ator Paulo Autran sentado em uma cadeira de vime, e a narrar a história do Rei Arthur...

No segundo semestre de 1975, com o The Who a explodir as minhas entranhas, a falar da minha geração (e nem foi a minha, posso afirmar), com contundência, eu formei uma banda "fictícia" com colegas da escola.  

Distribuímos as funções de cada um e assim foi formado o "Satanaz"... nem precisa dizer que essa garotada gostava do Black Sabbath, pelo menos na escolha do nome, digamos, ortodoxo. 

Claro que ninguém se dignou a estudar um instrumento verdadeiramente. A nossa condição musical para avançar com tal determinação foi a da estaca zero, mas a imaginação se mostrava fértil e dessa maneira, chegamos a "compor" algumas músicas, na base só de melodia e letra. 

Foram dezesseis músicas designadas com nomes esdrúxulos tais como: "O Abominável Homem das Neves", "O Sono", "O Encontro dos Amantes", "Cemitério dos Elefantes" e outras pérolas inacreditáveis, frutos da mais pura ingenuidade juvenil... 

No entanto, uma dessas músicas muito mal ajambradas, se tornou uma canção com harmonia, arranjo e melodia bem estruturada, em 1977, e fez parte do repertório do Boca do Céu, a minha primeira banda real. Chamava-se: "O Mundo de Hoje", e por incrível que pareça, fora uma ideia só da minha autoria, sem parceria com ninguém, portanto, ao se considerar que eu fui um reles principiante, a me encontrar na estaca zero em termos de teoria e prática musical. 

Claro, na época do Boca do Céu, o Laert "Sarrumor" Julio, a rearranjou, burilou a melodia, deu um acerto na letra e a tornou audível o suficiente para concorrer em um festival do porte do FICO, quando concorremos em outubro de 1977, e que no momento oportuno da narrativa sobre o Boca do Céu, descreverei, certamente. 

De volta ao "Satanaz", é claro que esse devaneio se dissipou quando o ano letivo de 1975 se findou e com a agravante de que os meus amigos deixarem a escola, visto que estes completaram a oitava série, e eu ainda ficaria lá em 1976, para completar esse ciclo educacional. 

Então, em março de 1976, inconformado com o fim do "Satanaz", resolvi fundar uma outra banda, e mesmo sendo nos mesmos moldes, eu quis desta feita dar o passo além, ao fazer com que essa banda fictícia, estabelecesse a transição para o campo real. 

Surgiu assim o "Medusa", em que o descompromisso concreto com a realidade, nos permitiu uma troca de instrumentos radical. Nesse projeto eu fui o guitarrista, Jacques ficaria na bateria e o Edson no baixo. O Bernardo "Janjão" não sabia se continuaria como vocalista e o Wlademir, pulou fora dessa divagação. 

Não deu em nada, apesar de termos mantido a maluca dinâmica de compor melodias e letras, mesmo sem tocarmos instrumentos musicais reais. Assim, foram treze "composições sem pé, nem cabeça", mas engraçadas, como: "Fura Pneu" (fura pneu/no meio da estrada/não tinha macaco/não tinha mais nada...), e "O Vômito" (o vômito/comecei a vomitar/cebola e abobrinha começou a rolar...). Ou seja, uma predisposição hilária, mesmo que a minha intenção fosse a expressão de uma explosão interna que eu precisava extravasar! 

Quanto ao "Medusa", não durou nem um mês em sua tentativa efêmera, e se esvaiu como um sonho, tão somente.

Eu, Luiz Domingues, em foto clicada em 1975 e usada para ilustrar a carteira escolar, em março de 1976, aproximadamente. Acervo familiar
 
Entretanto, em abril de 1976, a minha vida começou a mudar, quando um novo amigo que conhecera na 8ª série, chamado, Osvaldo Vicino, me convidou para formar enfim, uma banda de Rock, real, pois ele tinha uma guitarra e sabia tocar desde 1974, aproximadamente. Eu estava convicto do que almejava e não me fiz de rogado ao aceitar de imediato, mesmo ao não saber tocar absolutamente nada. Sobrou-me o baixo outrossim e daí, baixista me tornei!

Este prefácio, a conter um super resumo da minha ligação com a música na infância e adolescência foi criado exclusivamente para o meu Blog 2, e também para o livro impresso, mas para efeito de complemento, saiba que neste mesmo Blog 3, existe uma série de relatos mais detalhados sobre a minha infância e adolescência e como eu recebi a carga cultural que me influenciou. 
 
Estão postados ao final do texto da autobiografia em dezesseis postagens, uma para cada ano da minha vida entre 1960 e 1975, a relatar ano a ano, como o Rock me influenciou e como foi a minha formação cultural em geral, desde o berço. 
 
Procure no arquivo do Blog tais postagens suplementares a esta autobiografia, postadas nos meses de junho e julho de 2016, no arquivo deste Blog. 
 
Sendo assim, eu dou início ao livro propriamente dito, ao seguir deste ponto: quando formei enfim, a minha primeira banda real e ponto onde considero o início oficial da minha carreira musical, em abril de 1976... 

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