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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Chave/The Key - Capítulo 1 - Reconstrução Após Holocausto - Por Luiz Domingues

Esta é uma nova história da minha trajetória na música, embora seja um começo sui generis, porque não foi um trabalho totalmente novo que desenhou-se no meu caminho, mas sim motivado pela necessidade premente de se montar uma banda dissidente da velha "A Chave do Sol" e com uma urgência absurda nessa operação. 

Vamos aos fatos: sem tempo para pensar, quando uma bomba atômica caiu sobre a minha banda, A Chave do Sol, em dezembro de 1987, eu não pude dar-me ao luxo de ficar deprimido com tal final súbito de uma banda que construíra uma trajetória muito consistente na história do Rock Brasileiro. Com compromissos marcados e absolutamente inadiáveis, por conta das contas contraídas para que o último LP da banda (chamado: "The Key"), fosse para as prateleiras das lojas especializadas e para as mesas dos jornalistas em suas respectivas redações, a banda não poderia acabar, simplesmente. Contudo, da maneira como ela foi arrasada por conta de tal imbróglio insolúvel, tornou impossível a sua continuidade. 

Então sem saída, eu tive que tomar uma série de providências para não deixar ocorrer uma catastrófica situação maior, pois os compromissos urgiam e a mais razoável saída para esse impasse ser resolvido de imediato, foi procurar o escritório do INPI (Instituto Brasileiro de Patentes Industriais), para entrar com um pedido a requerer um novo nome para criar uma banda emergencial. 

Com o impedimento para que pudéssemos, eu e Beto Cruz, continuarmos a usar a marca, "A Chave do Sol", que pertencia oficialmente ao Rubens (pela patente do INPI), eu precisei criar um nome que tivesse uma ligação com a minha ex-banda, não por maquiavelismo de minha parte, mas simplesmente porque o LP "The Key" tinha saído há pouco mais de vinte dias e houve uma necessidade dramática de se promovê-lo ao máximo, por que o movimento decorrente da sua venda seria a nossa única esperança para saldar as dívidas provenientes dessa produção. 

Além disso, A Chave do Sol detinha compromissos inadiáveis para janeiro de 1988 e em hipótese alguma nós poderíamos deixar de fazê-los, sob o risco de sabotar a divulgação do disco e aí, sob um efeito cascata, ficarmos em péssima situação financeira. Então, a solução mais razoável que nós visualizamos foi investir na marca: "A Chave", ao suprir o termo, "do Sol".

Dessa maneira, manteríamos um elo com a banda que havia encerrado atividades e portanto, não distanciarmo-nos do LP "The Key"; para não sair da mira dos jornalistas e principalmente dos fãs do trabalho. Não foi uma solução mais adequada, todavia. 

Nos anos setenta, uma banda que alcançou fama nacional no meio Rocker, chamou-se, justamente: "A Chave". Foi uma ótima banda, por sinal, que eu inclusive apreciava e cheguei a ver ao vivo, certa vez em um festival promovido pela Rede Bandeirantes de TV, chamado "Balanço", em 1977 (contei essa particularidade com detalhes nos capítulos sobre o Boca do Céu, a minha primeira banda). 

Causou-me um desconforto enorme batizar a nova banda dessa forma, é óbvio (muitos anos depois, tornei-me amigo do baixista d'A Chave, Carlão Gaertner, pelas redes sociais da internet, quando tive a oportunidade de entrevistá-lo para uma revista onde eu fui colaborador, a "Bass Player", em 2016), mas acuado pelas circunstâncias dramáticas que cercaram o fim d'A Chave do Sol, eu não tive uma outra alternativa a não ser insistir nessa ideia. 

Foi um ato desesperado, porém constrangedor ao gerar-me angústia, batizar a nova banda dessa forma, é óbvio, mas pressionado pelas circunstâncias dramáticas que cercaram o fim d'A Chave do Sol, eu não tive outro meio a não ser insistir nessa ideia. Mas o fato de eu tentar, não significara ainda que lograria êxito, pois em tese, quando tenta-se patentear um nome no INPI, a primeira etapa a ser cumprida é um processo de "busca", em que aquele órgão pesquisa se não existe ninguém no território nacional a usar o mesmo nome para tal finalidade. 

Quando patenteia-se alguma marca, existe um número infinito de possibilidades e quanto mais você tentar cercar, mais taxas tem que pagar. Por exemplo, eu poderia patentear tal marca para ser usada como nome de um conjunto musical, mas se quisesse assegurar a marca para outras atividades, como por exemplo, abrir um escritório de representação artística com o mesmo nome, seria obrigado a ter que pagar mais uma taxa e assim por diante, para cada item que desejasse garantir a primazia pelo uso de tal marca.

Portanto, foram dias sob apreensão, pois corremos contra o relógio, ao tentar formar uma nova banda, além da burocracia da busca pela marca, que demandava em dias. 

Sem alternativa, paguei a taxa pela busca e dei entrada em tal protocolo. Concomitantemente, saí às ruas para vender o LP "The Key", pois sem esquema de distribuição algum, foi a única forma para conseguir angariar fundos sob um curto prazo, a visar amortizar as dívidas. E pelo lado do Beto, os seus esforços foram empreendidos para arregimentar novos músicos para formarmos uma banda emergencial e que certamente acompanhara o mesmo frenesi desesperado.

A ideia foi montar um time às pressas, pois teríamos dois shows para realizar, fruto da agenda assumida da velha, A Chave do Sol e como eu já salientei, seria impossível pensar em cancelá-los, simplesmente, dada a emergência para arregimentarmos dinheiro e assim divulgarmos o novo disco. 

Após alguns dias, já no início de 1988, eu consegui o resultado da busca do INPI. De fato, a marca "A Chave" pertencera a um dos músicos daquela extinta banda paranaense, mas há muitos anos o domínio fora abandonado, ao denotar falta de interesse de seus ex-membros em renová-lo. 

Com a consciência um pouco mais leve, dei entrada imediatamente no protocolo de patente em meu nome e mesmo ao saber que o processo demoraria de três a cinco anos para dar-me a patente definitiva, o protocolo assegurou-me prioridade total nessa reivindicação, ou seja, ninguém no Brasil poderia se opor e fazer uso desse nome para si (asseguro-lhes, o nome pertence por uma questão de justiça, à velha "A Chave", do Paraná, e jamais, mesmo se o protocolo INPI desse-me tal primazia legal em definitivo, eu criaria problemas caso eles resolvessem reativar a banda), e se tomei tal iniciativa, fora apenas por um ato de desespero, ao verificar que o Rubens usara essa ameaça para obstruir o uso do nome d'A Chave do Sol. 

Tal determinação, revelou-se na prática, uma bobagem burocrática, mas diante da briga que eu e Beto tivéramos com o Rubens, tal racha na banda infelizmente obrigou-nos a tomar tal providência.

Ao analisar hoje em dia, ninguém imagina o quanto lamento aquela ruptura, conforme eu já deixei claro nos capítulos da história d'A Chave do Sol e assim, eu só lastimo o quanto da porcentagem de sofrimento de todos nós: eu (Luiz), Beto e Rubens, teria sido evitado, se um ou dois dias depois daquela reunião que gerou a discussão e ruptura, nós houvéssemos nos encontrado com os ânimos menos acirrados e decidido portanto prosseguir com A Chave do Sol, em que o único desconforto premente, teria sido arrumar um novo baterista para seguirmos em frente. 

E nem mesmo isso talvez fosse necessário, pois o Zé Luiz Dinola já havia desistido de sua ideia esdrúxula de estudar odontologia nessa altura (dezembro de 1987), e muito provavelmente estaria disposto a dialogar e voltar a ocupar o seu posto na banda, lugar de onde jamais deveria ter saído. Mas não foi assim que aconteceu, infelizmente...

Uma outra providência que precisou tomar com urgência, foi alugar uma nova caixa postal para servir essa nova banda. Diante dos acontecimentos dramáticos que culminaram com o fim d'A Chave do Sol, não houve nenhum cabimento de se continuar com a histórica caixa postal que a nossa ex-banda usou por anos a fio, desde 1984, quando fundamos o seu fã-clube e tal contato com os fãs tornou-se direto nesses termos. 

Internet ainda era para a maioria, um objeto de enredo de filmes Sci-Fi, em 1988, embora já estivesse disponível ao público em geral. Porém, claro que não era nada popular e os equipamentos disponibilizados ao cidadão comum naquele tempo, não eram ainda nada fáceis para lidarem-se, a não ser para pessoas que fossem munidas de conhecimentos de informática e fora o fato de serem caríssimos. 

Portanto, contar com o apoio de uma caixa postal para receber as correspondências datilografadas ou manuscritas, ainda foi a melhor maneira para se estabelecer a comunicação direta com os fãs do trabalho. Sendo assim, creio que no calor da briga que culminou no final d'A Chave do Sol, não foi nada conveniente continuar a usar a histórica caixa postal 19090 - SP.

Portanto, foi outra tarefa burocrática e desagradável que eu precisei cumprir às pressas, ao procurar desta feita, uma agência do correio perto de minha residência, para abrir uma nova caixa e pelo lado prático da situação, só a lamentar-se também o quanto isso geraria confusão entre os fãs, acostumados com a caixa postal antiga.

Somou-se a isso, os anos a fio de esforços somados para a divulgação que fazíamos através da TV, rádio, filipetas, no fanzine oficial que produzíamos e na própria capa dos nossos discos. Inevitável, portanto, a mudança traria um resultado de prejuízo certo. 

Então, a nova banda, agora chamada: "A Chave", receberia correspondência doravante, pela caixa postal 15665-SP, em uma agência localizada na Rua Tuiuti, próxima à Praça Silvio Romero, no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. 

Sobre os esforços do Beto Cruz, em questão de poucos dias, ele já esteve a anunciar um grupo de novos componentes arregimentados.

Foto de Zé Luiz Rapolli, do fim dos anos noventa, quando ele trabalhou em uma loja de instrumentos da Rua Teodoro Sampaio

Para a bateria, foi apresentado: José Luiz Rapolli, ex-baterista da banda "Jaguar", que encerrara atividades recentemente e que tratara-se de uma banda com qualidade e que alcançara razoável projeção na cena do Hard-Rock paulistano. O tecladista, Fábio Ribeiro, que tocara no último show oficial d'A Chave do Sol, em dezembro de 1987, foi confirmado também para fazer parte da formação.
Theo Godinho, ex-guitarrista do "Jaguar", em foto posterior à sua rápida passagem por essa nova banda que formávamos  

    Eduardo Ardanuy, aqui já em ação com "A Chave", em 1988

E dois guitarristas: Theo Godinho, ex-guitarrista do "Jaguar", também e um garoto bem novo e que o Beto descobrira a atuar pela noite, com a fama de ser um virtuose, chamado: Eduardo Ardanuy. 

E assim, em janeiro de 1988, nós começamos a ensaiar como um sexteto, ao visar cumprir dois compromissos, que na verdade eram da agenda da velha, A Chave do Sol. 

O primeiro deles, foi em um evento de grande porte, promovido pela Rede Bandeirantes de TV, chamado: "Verão Vivo", filmado em uma praia da cidade da cidade do Guarujá, no litoral de São Paulo. Já o outro, ocorreria em um salão de Rock, famoso e tradicional, localizado no Tatuapé, na zona leste de São Paulo e chamado: "Led Slay". 

Tudo foi angústia, incerteza e pressa, nesses dias de janeiro de 1988, lastimo ter que registrar esse fato histórico...

Diante desse cenário angustiante, ao pisar em terreno minado, fomos a lutar duramente pela sobrevivência. Atormentados pelas dívidas contraídas e muito acima da nossa capacidade financeira, a vender discos debaixo do braço, literalmente, montar uma nova banda desvinculada da velha banda extinta, mas ao mesmo tempo a necessitar manter obrigatoriamente, um elo estratégico com a extinta banda ainda muito recentemente, foi um horror esse período.

Já com o protocolo da nova marca em mãos, pelo menos sabíamos que o Rubens não poderia reclamar sobre a existência dessa dissidência forçada de nossa parte.

Então, restou-nos juntarmos os cacos e nos esforçarmos para garantir a dignidade mínima para que esse novo trabalho seguisse em frente.

Em princípio, não houve nenhuma chance de pensarmos sobre uma possível renovação do repertório. Nós deveríamos tocar as músicas do LP "The Key", mesmo ao corrermos o risco de promover uma enorme confusão na percepção dos fãs da velha, A Chave do Sol. 

Todavia, um ponto positivo ocorreu, assim que começamos a conversar com os membros recém-chegados: a ideia seria renovar completamente o repertório, ao forjar-se uma nova identidade. Certo, os dois ex-membros d'A Chave do Sol, estavam a montar uma nova banda, mas esta não poderia ser encarada como a continuidade d'A Chave do Sol, simplesmente.

Enfim, foi uma situação totalmente embaraçosa e desagradável, portanto, por que o ideal teria sido que A Chave do Sol pudesse ter superado a sua crise interna e estar disposta a tocar a sua carreira em frente, prioritariamente, ou sob uma segunda hipótese, que essa nova banda fosse formada com um nome completamente desassociado d'A Chave do Sol e com calma, como um novo trabalho deva ser construído. Mas não foi assim que aconteceu, infelizmente!

O contato inicial com os novos componentes foi muito cordial e melhor que isso, eu senti da parte deles, empolgação para começarem esse trabalho. De certa forma, foi positivo receber essa energia, pois eu e Beto estávamos bastante desgastados com os acontecimentos dos últimos meses e principalmente pelo seu desfecho tristíssimo para todos nós, ex-membros d'A Chave do Sol. 

Ouso dizer que eu estava emocionalmente pior, primeiro pelo fato dele, Beto, ter uma personalidade mais telúrica que a minha e diante da adversidade, o seu pragmatismo sempre o levava a tomar providências imediatas para mudar o quadro e não deixar-se abater sob um estado depressivo, mas pelo contrário, ante a adversidade, ele sempre reunia uma força extra e saía à luta.

Sobre Zé Luiz Rapolli e Theo Godinho, eu conhecia ambos superficialmente, por conhecer o Jaguar, a sua ex-banda. No entanto, eu nunca houvera conversado com eles com maior aprofundamento de ideias, mas já os cumprimentava pelo menos desde 1985, em bastidores de shows (cheguei a assistir um show do próprio, Jaguar, certa vez). 

A respeito do tecladista, Fábio Ribeiro, eu havia tido a experiência dele ter tocado conosco no último show d'A Chave do Sol, em dezembro de 1987, no Teatro Mambembe. 

Portanto, eu apenas não conhecia anteriormente o guitarrista, Eduardo Ardanuy, que fora uma descoberta do Beto Cruz. Pelo que contou-me, este ouvira boatos de que era um rapaz muito jovem que tocava pela noite, com pequenos combos improvisados e detinha a fama de ser um virtuose, com estilo muito parecido com o do guitarrista sueco, "Yngwie Malmsteen".

Tal guitarrista internacional houvera se tornado uma celebridade a se configurar como uma autêntica "febre" entre os guitarristas do campo do Hard-Rock oitentista no mundo todo, pela sua absoluta destreza ao instrumento, contudo, sob um patamar muito acima do normal. Esse tal Malmsteen, tocava com uma técnica absurda e sob uma velocidade tamanha, que tratou de encantar muitos guitarristas que passaram a estudar de uma forma estonteante para alcançar tal nível de sua técnica. 

Tal som que encantara essa garotada, se constituiu de uma mescla do Hard-Rock com o Heavy-Metal oitentista, mas houve um quê de Hard-Rock setentista nessa mistura, principalmente via Ritchie Blackmore, o mítico guitarrista do Deep Purple, que por sua vez, arregimentara milhões de seguidores de sua guitarra super técnica, a mesclar os riffs de Jimi Hendrix (incluso o uso e abuso de alavancadas e efeitos gerados pela microfonia), com a música barroca, principalmente da parte do compositor alemão, Johann Sebastian Bach. 

Malmsteen foi um desses fanáticos fãs de Blackmore em sua formação pessoal como fá e músico, ocorrida nos anos setenta, mas ali na década de oitenta, a sua pegada ficou muito mais caracterizada para o Hard-Heavy oitentista, naturalmente. 

Edu Ardanuy fora um admirador confesso de Malmsteen e por conseguinte estudou alucinadamente e adquiriu dessa forma, um padrão técnico tão impressionante, que mesmo ainda ao ser um garoto desconhecido no meio Rocker, fora apelidado como: Edu "Malmsteen". 

Particularmente, eu nunca gostei do sueco Malmsteen e muito menos de todo o desencadeamento que seguiu-se a ele, como tendência ao culminar com o estilo "Heavy Melódico", aliás, nem do Heavy-Metal tradicional eu jamais gostei e naturalmente que não haveria de gostar dessa histriônica variação centrada no virtuosismo extremo. 

Mas naquele cenário que desenhara-se em 1988, pareceu não haver muita saída para nós e com a agravante de estarmos aflitos e a fazermos tudo às pressas, nem haveria muito cabimento em questionar-se linhas estéticas a serem adotadas. 

Por navegarmos sem alternativa com a maré, portanto e por termos Edu e Fabio (que igualmente mostrava-se como um virtuose das teclas e que também estava a encantar-se muito por aquele modismo do virtuosismo "malmsteeneano", apesar de possuir boa formação Prog-Rock setentista), tornou-se inevitável que adentrássemos nessa senda. 

Sobre o Theo, este foi uma guitarrista com muitas virtudes, mas não necessariamente um virtuose como o Edu. Mais parecia um guitarrista clássico de Hard-Rock oitentista, embora apresentasse uma bagagem setentista interessante, também. 

A respeito do temperamento desses novos companheiros, achei em princípio, o Zé Luiz Rapolli bastante simples, no melhor sentido do termo e amigável. Fábio Ribeiro se mostrara muito brincalhão, mas sem dúvida que o considerei como um bom menino e uso esse termo, pois ele tinha dezessete para dezoito anos de idade, nessa ocasião. Theo Godinho pareceu-me gentil, mas mostrara-se tímido no convívio, mas tudo bem, eu também sou port natureza e o entendi plenamente por não se mostrar expansivo. E sobre o Edu, este se portou de uma forma absolutamente circunspecta, ou seja, pareceu-me ser um rapaz focado exclusivamente na música e sem muitas palavras para tratar sobre outros assuntos. 

Em suma, em meio a tantas adversidades que estávamos a enfrentar, ao menos ficamos aliviados por constatarmos que arrumáramos quatro músicos muito competentes, com vontade de assumirem o desafio desconfortável dos compromissos firmados em cima da hora e com poucos ensaios. E sobretudo, todos, a se revelarem como pessoas de muito boa índole.  

E assim, em janeiro de 1988, começamos a ensaiar como um sexteto, para visar cumprir dois compromissos, que na verdade seriam da velha, A Chave do Sol. E começaram os ensaios.

O tecladista, Fábio Ribeiro, em foto mais ou menos da época em que entrou para essa nova banda que formamos.
A nossa primeira missão foi o compromisso da TV. Com esses músicos reunidos e agrupados na sala de estar da residência do Beto Cruz, tivemos apenas dois dias apenas para prepararmo-nos. No show da TV, o combinado foi se configurar como uma típica apresentação de choque. Sete ou oito músicas apenas a serem executadas e com a possibilidade de apenas três ou quatro irem ao ar, posteriormente, nós já sabíamos dessa predisposição da parte da produção da atração televisiva.

Porém, dois dias depois nós teríamos um show completo para cumprirmos em um salão de Rock da zona leste de São Paulo e nesse espetáculo, teríamos que no mínimo, tocar o LP "The Key" inteiro, pois não haveria a menor chance de termos tempo algum hábil para compormos as músicas novas. 

Aliás, mal tivemos tempo para deixar o material da velha, A Chave do Sol pronto para ser tocado ao vivo, para honrar as suas tradições rompidas indevidamente por uma série de lamentáveis mal-entendidos. 

Ao término do primeiro ensaio, o Zé Luis Rapolli mostrou-se pessimista em relação à sua participação. Ele considerou que precisaria de mais um tempo para decorar convenientemente as músicas e assim, talvez estivesse mais seguro para o show completo no tal salão que eu mencionei, mas para o compromisso da TV, ele relatou-nos ter estado inseguro para atuar. 

Portanto, o Beto não teve dúvidas e ligou para o José Luiz Dinola, ex-baterista d'A Chave do Sol e formulou o convite para que ele apresentasse-se conosco na TV, ao expor a situação de que o seu xará recém ingresso na nova banda, precisava de mais um tempo para adaptar-se etc.

Foi incrível, mas de uma forma absolutamente bizarra, tocaríamos com o nosso velho colega, mas sem ser de fato uma apresentação d'A Chave do Sol, a pisar em um palco, porém ao mesmo tempo, a tocar o seu material e cujo disco recém lançado ainda com a banda clássica, tenha sido gravado por outro músico, no caso, Ivan Busic!

Portanto, revelara-se um cenário muito confuso e certamente que só aumentara a nossa percepção de que tudo houvera sido um grande equívoco. O certo teria sido estarmos unidos e a trabalhar normalmente com nossa banda, a realizarmos shows promocionais de nosso novo álbum, com a nossa marca e formação clássica sobre os palcos. 

Mas estávamos ali com um novo nome, rompidos com o nosso guitarrista cofundador da banda e a cumprirmos compromissos que seriam da nossa banda, mas que, diante de tais dramáticas novas circunstâncias, obrigou-nos a criar uma nova banda às pressas, com outros componentes, e a necessitarmos ter que recorrermos ao nosso velho baterista, que fora o primeiro a deixar o nosso bote. 

Então, o lado bom disso, se é que existiu algo positivo nesse imbróglio tão confuso, foi que o Dinola aceitou socorrer-nos de pronto e mesmo sem tempo para ensaiar, deu-nos segurança de que mantinha as músicas na sua memória. Não seria para menos, ele as conhecia de cor e salteado, talvez com exceção de três que houveram sido incluídas nos estertores da sua permanência no cotidiano da banda. 

Quanto aos demais novos membros, eles demonstraram estarem mais seguros, mas também não tratara-se daquela segurança absoluta de uma banda perfeitamente entrosada e afiada, características inclusive que eu acostumara-me em meio aos cinco anos a atuar com a antiga, A Chave do Sol. Bem, não adiantou lamuriar... foi o cenário com o qual tivemos que lidar e fim de conversa. 

E finalmente, chegou o dia da viagem para o litoral.

Como de praxe, as bandas que apresentar-se-iam no dia, reuniram-se em um ponto de encontro determinado pela produção do show/filmagem. No caso, viajamos em um ônibus da frota da Rede Bandeirantes de TV, acompanhados da agradável presença dos amigos do "Proteus", banda com a qual interagíamos desde 1987, quando ainda éramos componentes, eu e Beto, da velha, A Chave do Sol. No ônibus, além da comitiva das duas bandas, muitos técnicos da TV, viajaram conosco.

Fez um calor de rachar, e claro, tratou-se do padrão normal para o mês de janeiro, ainda mais ao levar-se em conta que descíamos a serra em direção a uma cidade praiana, tradicionalmente quente, ainda mais em pleno verão. 

A viagem foi bastante prazerosa, ao quebrar um pouco o clima pesado com o qual eu e Beto estávamos a amargar nos últimos quarenta dias, aproximadamente, por conta dos acontecimentos terríveis que culminaram com a extinção d'A Chave do Sol e abrupta formação dessa nova banda dissidente. 

Não só por isso, eu diria, mas também pela incidência das dívidas contraídas pela produção do LP The Key, que atormentavam-nos e cuja única saída, foi promover a nova banda e vender discos para pagar a conta da banda anterior, que desintegrara-se. 

Quando chegamos a cidade do Guarujá (por volta do meio da tarde de uma quinta-feira, dia 28 de janeiro de 1988), fomos conduzidos diretamente à praia em específico onde o palco foi montado e com o PA já inteiramente erguido e a ser afinado preliminar mente pelo técnico.

                   Visão de algumas praias da cidade do Guarujá

Fizemos o soundcheck sob forte calor e um sol causticante, com poucos banhistas a interessarem-se com a movimentação toda pela produção, ainda bem, eu diria, para não tumultuar o trabalho. Claro, foi um soundcheck rápido, sem maiores requintes e por contar com a tradicional má vontade generalizada de técnicos e auxiliares altivos, que tinham (tem), como uma estúpida praxe, maltratar artistas que não são proeminentes na mídia mainstream, como se os incomodássemos com a nossa simples existência e muito pior, pela falta de projeção midiática avantajada, como se isso fosse nossa culpa. 

Encerrado esse trabalho, feito de uma forma bem superficial para o nosso gosto e necessidade premente (e convenhamos, deveria ser um show para uma grande, supostamente, multidão ao vivo, e com a responsabilidade de se tratar de uma filmagem para a TV, portanto, deveria haver apuro na qualidade do áudio, muito maior), a produção conduziu-nos para um hotel, onde descansaríamos e aprontar-nos-íamos para o show.

Infelizmente, o hotel alugado pela Rede Bandeirantes mostrou-se precário e não reunia condições para que descansássemos adequadamente. Sou muito grato a essa Rede de TV por ter inserido-nos nessa programação do seu programa, "Verão Vivo", pela evidente oportunidade de uma exposição em cadeia nacional, mas deixo a pergunta: será que artistas mais famosos do que nós, usavam normalmente aquele hotel de baixo nível ao estilo de um "pulgueiro?" Duvido que algum medalhão da MPB ou até mesmo do movimento "BR Rock 80's" fosse hospedado ali, mas enfim, foi o que tivemos. 

Fomos para o show, então e o grupo, "Proteus", tocou primeiro. A sua apresentação era sempre convincente e houvesse ou não público presente, os seus componentes portavam-se em cena como se estivessem as atuarem em um estádio de futebol lotado e isso era louvável ao meu ver, sob o ponto de vista cênico e profissional, na postura deles. 

Quando fomos para o palco, a nossa preocupação, além de tocar o melhor possível diante de uma monitoração bem ruim e totalmente diferente da estabelecida no soundcheck (para que se equalizar o som antes dos shows, se na da apresentação, eles, os técnicos mudam tudo?), a nossa alternativa seria obtermos a melhor performance cênica possível, ao pensarmos na audiência formada com milhares, quiçá milhões de telespectadores, mas a motivação teve que vir de um foco nessa premissa, muito forte nesse sentido, por que ali, no calor do show, seria bem difícil extrair ânimo para tal ante um som ruim e uma plateia desinteressada ou até hostil.

Abaixo, eis o vídeo a mostrar a abertura de nosso show, com bastante energia, mediante a execução da canção, "Profecia", primeira faixa do lado B, do LP The Key, e que foi a mais pesada do disco 
O link para assistir o vídeo no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=qCLUfoAQYSc


Isso por que o público presente foi diminuto e muito frio, no geral. Houve sim, um pequeno público Rocker, perto do palco, mas a grande massa, dos poucos que manifestavam-se, estiveram ali para tumultuar, simplesmente e neste caso, tal pessoal não mediu esforços para tal...
 
Abaixo, assista "A Woman Like You", primeira faixa do LP The Key. O áudio da mix da TV é sofrível (a caixa da bateria parece uma caixa de sapatos, e quase não dá para se ouvir o baixo etc), mas foi válido como um registro da participação dessa nova banda na TV, ao vivo.
Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IeQPAr0vxWw


Assista abaixo, "Sweet Caroline", a segunda faixa do LP The Key. No fim da música, ocorreu uma pane geral entre os guitarristas que esqueceram-se da pausa, mas eu e o Zé Luiz Dinola não deixamos a banda sentir isso, ao tocarmos os acentos e quase ninguém percebeu a ausência indevida dos demais.

Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=rtna5DWn07g


Tratou-se de um pequeno, mas bastante impetuoso grupo de pessoas nitidamente com baixo nível educacional e cultural, que debocharam o tempo todo de nós, ao provocar-nos com uma boa dose de escárnio e desprezo, aos gritos de: -"ei roqueiros, toquem um pagode aí" e esse tipo de observação galhofeira, foi a interferência mais suave que disseram-nos naquela noite. 

Não contente em hostilizar-nos verbalmente, houve a incidência do arremesso de alguns tufos de areia, mas felizmente a distância da grade de segurança que conteve essa turma, foi o suficiente para que tais arremessos não chegassem até nós diretamente, mas apenas a emporcalhar a ponta do palco, antes mesmo da linha do "side fill" (um micro PA posicionado nas laterais do palco, para visar reforçar a monitoração para os músicos ouvirem-se melhor), mas mesmo assim, o baixo astral em passarmos por isso, gratuitamente, foi um horror...

Abaixo, "Sun City", sob uma performance sem grandes novidades, em relação ao arranjo original do disco. 

Eis o link para ver no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=Kia9ARQQ_U8

Bem, independente dessa deprimente que veio da manifestação de um público frio e com certa hostilidade como eu descrevi acima, por parte de alguns mal-intencionados, eu penso que a nossa performance foi digna. Demos o nosso recado para a TV, quebramos o gelo entre eu & Beto, em relação aos demais novos músicos e de fato, foi o que mais importou ali, naquele instante, pelas hostilidades inerentes. 

A performance foi bastante energética. Com a segurança do José Luiz Dinola, muito habituado com aquelas músicas, a banda soou como se estivesse junta há muito tempo. Não pareceu que havíamos agrupado-nos há poucos dias e que a maioria dos músicos não mantinham intimidade com aquele repertório. 

Ali, logo nessa primeira apresentação, uma amostra do que seria essa nova banda, foi dada com eloquência, eu diria, pois o virtuosismo do Edu Ardanuy e de Fábio Ribeiro, foi proeminente. Diante de alguns poucos improvisos, pois a base fora o repertório do LP "The Key", eis que já mostraram a sua face, com pequenas bases harmônicas feitas para dar vazão aos solos longos e virtuosísticos, da parte de ambos. Aliás um raro momento em que fugimos do repertório do LP The Key, ao trazer algo diferente e que de fato, nortearia o trabalho dessa nova banda doravante. 

Eis abaixo, um pequeno solo individual do Edu Ardanuy ocorrido naquela noite no Guarujá-SP, amparado por uma cama harmônica dos teclados, feita pelo Fábio Ribeiro

Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ZWq82zrlTFo

O Zé Luiz Dinola tocou como nos velhos tempos, mas não houve a menor possibilidade dele cogitar se juntar a nós, apesar de estar claro que já desistira da ideia esdrúxula de abandonar a música, fato que motivou a sua saída d'A Chave do Sol, cerca de seis meses antes e mesmo que houvesse tal possibilidade, estávamos fechados com Zé Luis Rapolli e se fosse para o Dinola voltar, o correto seria A Chave do Sol voltar às suas atividades habituais, com os seus componentes a reconciliarem-se e Rubens Gióia a retomar seu posto, simples assim!

Depois do show, fomos abordados por alguns fãs, mas poucos ali presentes souberam realmente quem nós éramos. Houve um diminuto contingente formado por Rockers naquela noite ali e de fato, a maioria que foi abordar-nos no improvisado camarim atrás do palco, esteve ali pelo glamour dos bastidores, simplesmente. 

Então, algo ainda mais bizarro ocorreu. Um sujeito abordou-nos com uma insistência bem desagradável, ao pedir-nos um LP, como um presente. E foi nítido que esse cidadão mal sabia quem éramos, infelizmente. No show, o Beto arremessara algumas capas do LP The Key para o público e a fazer a promessa de entregar-lhes a bolacha de vinil no pós-show, como meio de promoção. 

Os sujeitos que conseguiram capturar as capas no ar, apareceram para reivindicarem os seus vinis, mas isso também atraiu outros tantos oportunistas, que queriam ganhá-los, também. Ao vermos aqueles garotos a solicitarem discos com insistência, eu pensei comigo: -"estamos a necessitar vender cópias desesperadamente e esses sujeitos que nem sabem quem somos, estão aí, a pedirem discos que provavelmente vão tentar vender em um sebo, no dia seguinte, ou mesmo jogarem literalmente no lixo"...

Foi quando um desses rapazes e seguramente o mais inconveniente da turma, abordou-me e ele iniciou uma conversa absurda, a dar conta de que havia ajudado-nos na produção naquele dia e que por conta dessa suposta ajuda, "merecia" ganhar um disco! Foi uma das poucas ou talvez única vez em que eu fiquei muito aborrecido com uma abordagem de pós-show da parte de um estranho em toda a minha carreira, tamanha a insistência pegajosa do sujeito e digo isso com pesar, ao somar ao cenário dramático em que estávamos mergulhados, desde a dissolução d'A Chave do Sol, com inúmeros dissabores e preocupações para resolvermos e ali, aquele sujeito inconveniente a passar dos limites, sem nenhum senso de educação básica. 

Sei que tudo resolver-se-ia se eu tivesse cedido e dado-lhe um disco como cortesia, mas simplesmente, não o fiz, por uma questão de princípios. Primeiro, que criaria um precedente terrível. Se tivesse ofertado-lhe o disco, haviam pelo menos mais uns trinta pedintes ali na mesma situação e isso geraria um tumulto. Segundo, que a abordagem dele houvera sido tão descortês, que ele não fez por merecer, de forma alguma. Terceiro, por que provavelmente nem interessava-se pelo som da nossa banda. E quarto, pela situação dramática em que encontrávamo-nos naquele instante, em que a ideia de "doar" cerca de trinta discos a esmo, seria uma heresia financeira para nós. 

E além de tudo, esse rapaz não era da produção como alegara de uma forma falaciosa e assim, não fizera absolutamente nada para ajudar-nos como alegara, pateticamente. 

Então, contrariado, o impetuoso rapaz passou a proferir um discurso revanchista, sob baixo nível. Ele não partiu para agressões ou ofensas, mas ficou ali a falar com um volume alto para todo mundo ouvir, algo do tipo: -"é assim mesmo... você ajuda um artista e ele vira-lhe as costas quando sobe um pouquinho"...

Não contente com esse discurso absurdo, em insistir para imputar-nos a "soberba", indevidamente, ele rogou-nos uma praga, ao afirmar aos seus amigos, que por conta de "atitudes mesquinhas desse tipo", nós fracassaríamos na nossa carreira etc. e tal. 

Em suma, eu acho que eu nunca lidei com uma pessoa tão deselegante e baixo astral assim em um bastidor de show e afirmo a considerar o cômputo geral da minha carreira, ao falar do alto de quarenta anos de atuação, que completo neste momento em que escrevo este trecho (2016). Eu tive inúmeras experiências com outros seres desagradáveis de plantão, mas este pareceu superar os seus pares inconvenientes. 

Bem, entrei no ônibus da produção do evento e pela janela, ainda o ouvia a falar e a mostrar-me ironicamente um copo d'água, que usava para enfatizar a sua contrariedade na forma de um "brinde" imaginário que oferecia-me, como forma de deboche. 

Alheio a essa situação, fomos jantar em um bom restaurante e o fim da noite foi bastante agradável entre amigos, ao dissipar a nuvem com baixo astral, perpetrada pelo assédio indevido, como desse rapaz que eu citei acima. 

De volta para São Paulo, tivemos mais um pouco de tempo para ensaiar, mas bem pouco, pois no sábado subsequente, a obrigação foi cumprirmos um show completo.  

Abaixo, eis um pequeno vídeo dos bastidores pós-show, filmado a esmo pela equipe de cinegrafistas da Rede Bandeirantes e que não foi ar, mas muitos anos depois, alguém disponibilizou-o para um DVD pirata que passou a ser vendido em lojas da Galeria do Rock de São Paulo, e agora está disponível no YouTube, aliás, caso da maioria das músicas desse show e que na época, também não foram ao ar, pela TV Bandeirantes.

O Link para ver esse curto vídeo dos bastidores:

Então foi assim, quinta-feira, dia 28 de janeiro de 1988, tocamos no palco do projeto, "Verão Vivo", patrocinado pela Rede Bandeirantes de TV. Ali na praia, não deve ter havido mais que quinhentas pessoas na plateia, mas quando o programa foi ao ar, dias depois, em 11 de fevereiro de 1988, a edição maquiou a audiência, ao mesclá-la com outros shows em que o público fora bem maior. 

Naquelas circunstâncias de um show gravado ao vivo, direto de uma praia, durante o verão, acredito que nem medalhões do BR-Rock 80's fariam papel muito melhor. Toda a atmosfera teria sido adequada para artistas populares, quiçá popularescos e assim, bandas de Hard-Rock do universo underground da música profissional, não fariam sentido, mesmo, para aquela audiência.

Abaixo, assista, "A Chave é o Show", música que era emblemática nos shows d'A Chave do Sol, ser executada por essa nova banda, que ironicamente apresentava-se doravante como "A Chave", ao fornecer um certo sentido maior ao título da canção... 
O link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=OAgnRlVPros

Portanto, a confusão gerada pela criação de um novo nome e uma nova banda, mas a executar o material e divulgar o recém lançado LP de uma banda extinta, há poucos dias, não fez diferença aos
poucos Rockers antenados e ali presentes in loco, que viram-nos naquela noite ao vivo e ainda mais para a imensa maioria que assistiu-nos pela TV, dias depois.

Outra versão da música "A Chave é o Show", mas esta, fora de sincronia e pelo menos com a bateria mais alta na mixagem, quando possibilita-nos ver o Zé Luiz Dinola a brilhar em sua performance.
O link para ver no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ASSwPowUeME


Com a ressalva óbvia de que por tratar-se de uma exibição na TV, dias depois, claro que o público Rocker tomou conhecimento também, incluso os fãs da velha, A Chave do Sol e a confusão gerada foi grande. Pois é! Aonde está o Rubens Gióia? Aonde está o "Sol" dessa banda? Zé Luiz Dinola, voltou? E sobretudo, quem são esses dois guitarristas novos e o tecladista? Paciência, foi o que aconteceu a gerar confusão generalizada!

Feito o show para a TV, em uma praia do Guarujá-SP, dois dias depois fomos à zona leste de São Paulo para cumprirmos um show completo. Nem tão completo assim, eu diria, pois tratar-se-ia de um mini festival e por termos que compartilhar o palco com outras atrações, naturalmente, o que pressupunha-se um show de choque em princípio, ou no mínimo mais reduzido que um show normal. 

No caso específico desse dia, dividimos o palco com o "Made in Brazil", tradicional banda do circuito do Rock brasileiro e que já era longeva naquela ocasião, dada a circunstância de ser egressa dos anos sessenta. 

Desta feita com a presença daquele que seria o baterista definitivo dessa nova banda, José Luiz Rapolli, fomos mais preparados para esse compromisso.

Foi um sábado, dia 30 de janeiro de 1988, no salão conhecido como "Led Slay", no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. 

Eu havia tocado ali uma única vez, com o Língua de Trapo, no início de 1984, mas essa banda de sátira e humor, nunca foi uma banda de Rock, portanto, seria a primeira vez que eu tocaria ali com uma banda de Rock, sob um ambiente que supostamente era adequado para tal afinidade cultural. 

Ao ir além, a Led Slay mantinha a fama de ser um salão anacrônico nos anos oitenta. Assim como um outro salão e aliás, seu grande rival, o "Fofinho Rock Club", cujo endereço ficava na mesma avenida, mas separado por quase três Km entre um e outro. 

Portanto, ali naquele ambiente, apesar de haver espaço para as manifestações típicas oitentistas sob apelo Hard e Heavy, havia, tal como no "Fofinho", uma predileção por cultura Rocker dos anos sessenta e setenta.

Foi um dos poucos ambientes na ocasião em São Paulo, pronto para receber freaks da "velha guarda", hippies, bichos-grilo, seguidores de Raul Seixas e "micróbios" (uma pejorativa pecha para designar hippies maltratados, quase mendigos). Bem, alheios a essas constatações socioculturais, lá fomos nós com nossa banda montada às pressas, quando urgira divulgar-se o LP The Key e vendê-lo, a todo custo.

Tocamos antes do Made in Brazil, logicamente, pelo aspecto respeitoso de seu maior status adquirido por anos de labuta, mas também pelo fato do Oswaldo Vecchione, líder dessa seminal banda, ser o organizador do festival e o seu equipamento alimentar o palco e o PA do evento.

Tocamos um set maior que o show de choque que havíamos feito dois dias antes no "Verão Vivo" da TV Bandeirantes. Ou seja, tocamos o repertório do LP The Key inteiro, além da pequena intervenção de solos individuais do Edu Ardanuy e Fábio Ribeiro, que já havia sido apresentada no show do Guarujá-SP. 

Foi um show mais seguro, é verdade, pois o gelo houvera sido quebrado no show da praia. Rapolli tocou tranquilo e ficou o sentimento de que ele poderia ter tocado no show anterior, mas tudo bem, creio que a sua decisão de não atuar fora acertada pelo fator da prudência.

O palco montado foi pequeno e esteve alojado em um outro ambiente do salão que mostrara-se enorme. Do lado de fora, inclusive, havia uma área ao ar livre que era gigantesca e que nos anos anteriores ali promoveram-se shows com estrelas da MPB, como Gilberto Gil, Alceu Valença e Zé Ramalho, por exemplo, com multidões calculadas em mais de vinte mil pessoas presentes em cada ocasião dessas citadas, mas nesse festival em que tocamos, o palco houvera sido montado na parte interna e esta era bem menor, no tamanho de um salão tradicional. 

Por se considerar o tamanho do referido salão, creio que o resultado com cerca de trezentas pessoas presentes não pode ser comemorado como um grande público, inclusive para os parâmetros oitentistas em que o comparecimento do público fora muito maior, costumeiramente. 

Os irmãos Vecchione, Celso e Oswaldo, impressionaram-se com a técnica do Eduardo Ardanuy e chegaram a formular um convite para que ele ingressasse no Made in Brazil, naquele momento. Eu e Beto resignamo-nos, pois ficara claro que o Eduardo despertaria a atenção não apenas deles, os irmãos Vecchione, mas à medida que avançássemos com essa banda, outros assédios seriam inevitáveis.

Entretanto, o Eduardo não seduziu-se com a proposta e seguiu a apostar nessa nova banda que formávamos, mas em um futuro não muito distante, tal fidelidade não seria mais levada à risca e logo mais eu chego nesse ponto. 

A nossa luta prosseguiu e dali em diante, nós tivemos mais tempo para ensaiar, pois o próximo compromisso para show, só esteve marcado para o mês de abril. 

Enquanto, isso, concomitante aos ensaios, matérias e resenhas ainda a tratar da velha, A Chave do Sol, foram publicadas e expostas nas bancas de jornais e revistas e a árdua batalha para vendermos discos "debaixo no braço", literalmente, prosseguira, ao juntarmos moedas para pagarmos as dívidas adquiridas pela produção do LP The Key.

E na parte artística, esse sexteto montado de uma forma emergencial, enxugou-se, pois o guitarrista, Theo Godinho, deixou a formação. Foi uma decisão tomada de comum acordo e muito amigavelmente. 

De fato, com Edu e Fabio, estávamos super servidos com a parte harmônica e no tocante aos solos da banda e para ir além, com duas guitarras e teclados, o som ficou pesado e embolado demais. Não haveria a necessidade de duas guitarras, mesmo por que, se no caso de uma ou outra música houvesse tal situação de uma base de guitarra a mais ser útil, o próprio Beto poderia suprir tal lacuna, por também ser guitarrista. 

Além do mais, com o Theo, que era ótimo guitarrista, sempre haveria a questão de serem inseridos os seus solos, também, é claro. Portanto, com três solistas na banda, pois o Fábio também era um virtuose nos teclados, a tendência seria a de estabelecermos uma verdadeira overdose com excesso de solos nas músicas, ao torná-las maçantes para os ouvintes. 

Então, ao ponderarmos sobre tudo isso, Theo Godinho e a banda despediram-se amigavelmente e de nossa parte, ficou o agradecimento pela contribuição muito boa que ele deu-nos, em um momento marcado pela dificuldade de nossa parte, quando ele aceitou o convite para preparar a toque de caixa, as músicas de um LP inteiro, para executá-las em dois shows e com pouco tempo para um melhor preparo prévio.

Continua...

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